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António Costa, Fernando Medina e Stephen Hawking foram alguns dos nomes presentes nesta edição da Web Summit (foto: Web Summit)

A inteligência artificial marcou a primeira noite de Web Summit

Por: Denisse Sousa

Perante casa cheia no novo Altice Arena e num ambiente jovem, tecnológico e colorido, assim se abriram as portas para mais uma edição da Web Summit. De António Costa a Stephen Hawking, temas como a inteligência artificial, alterações climáticas e a concorrência justa no mercado tecnológico ficaram sobre a mesa.

Com o total de mais de 65 mil participantes de 170 países, Lisboa recebe durante quatro dias mais uma edição da Web Summit, a conferência europeia por excelência para a tecnologia. Com uma forte incidência na temática da inteligência artificial, Paddy Cosgrove, CEO e mestre de cerimónias, subiu ao palco onde fez uma retrospetiva da primeira edição da cimeira.

“Tudo começou em 2010. Começámos pequeno. Tivemos menos de 400 pessoas na primeira Web Summit e apenas quatro investidores. Agora, em 2017, já temos mais de 1.500 investidores em tecnológicas e a Web Summit é o maior encontro de investidores, tecnologia e startups no mundo,” contou o CEO.

Paddy relembrou que o networking é a palavra-chave do evento, por isso, convidou os milhares de participantes a apresentarem-se aos colegas de lado, num momento marcado por risos e muitos apertos de mão.

Fernando Medina e António Costa marcaram presença na abertura da conferência e ofereceram a Cosgrave um astrolábio, símbolo da descoberta e da inovação dos navegadores. António Costa reiterou ainda aos presentes o convite para que  regressem a Lisboa como turistas ou investidores, mas principalmente como amigos da capital.

 

Web Summit e a inteligência artificial

Ao palco subiu Nuno Sebastião, CEO da tecnológica Feedzai, empresa especializada no combate ao crime bancário. A tecnológica que conseguiu um investimento de 50 milhões de euros e que rapidamente se está tornar uma das startups com maior crescimento, trouxe ao palco o tópico da inteligência artificial e como  pode ser utilizada.

“A inteligência artificial é uma ferramenta fantástica, não há dúvidas sobre isso. Apesar de já ter um grande impacto nas várias indústrias, ainda está na fase inicial de desenvolvimento. E por ser uma ferramenta tão importante que irá ter impacto no nosso dia-a-dia, também temos que garantir que terá um bom uso”, afirma Nuno Sebastião.

Um dos momentos chave da noite foi a apresentação do convidado da Feedzai, nada mais, nada menos do que o professor Stephen Hawking, uma das mentes mais brilhantes da sociedade moderna. Hawking, que fez um discurso à plateia Web Summit via vídeo, partilhando as suas aspirações acerca da inteligência artificial e o seu papel na sociedade, bem como palavras de cautela quanto à sua utilização, reforçando a necessidade de ética e controlo no desenvolvimento da inteligência artificial.

“Não podemos prever o que conseguiremos alcançar, quando as nossas mentes forem amplificadas pela inteligência artificial. Talvez com as ferramentas desta nova revolução tecnológica, possamos desfazer os danos já feitos ao mundo natural pela industrialização, poderemos finalmente apontar para a erradicação da pobreza. Todos os aspetos da nossa vida serão transformados”, afirma o professor.

Mantendo o otimismo, Stephen Hawking acredita que a inteligência artificial pode ser utilizada para o bem do mundo e pode funcionar em harmonia com o ser humano, no entanto há que ter a noção do perigo, identificá-los e aplicar a melhor prática e gestão e preparar para as consequências antecipadamente.

Bryan Johnson, CEO da Kernel, subiu ao palco principal para finalizar a temática da inteligência artificial. O empresário partilhou o facto de ser surpreendente a falta de investimento no cérebro humano e explicou que o medo do desconhecido no que toca à inteligência artificial pode facilmente ser ultrapassado

“Estou mais preocupado com o comportamento humano do que com a Inteligência Artificial”, afirmou o líder da Kernel.

 

Tecnologia na luta pela melhoria do ambiente e crises mundiais

António Guterres, secretário geral das Nações Unidas, apontou como a tecnologia pode ajudar na melhoria dos problemas mundiais. O ex-primeiro-ministro português acredita que a globalização, desenvolvimento e a tecnologia são ferramentas para o bem, mas que é necessário estar atento e saber responder aos danos colaterais que possam existir.

“Há uma maneira de responder. Para responder às alterações climáticas respondemos com ações climatéricas, para responder ao crescimento da desigualdade avançamos com a luta por uma globalização justa. Com base nisto, conseguimos o ano passado dois grandes acordos, o Acordo de Paris e a Agenda 2030, com objetivos sustentáveis e com o intuito de não deixar ninguém para trás.”

António Guterres sublinhou, no entanto, que apenas o Acordo de Paris não é suficiente para enfrentar os problemas mundiais e reforçou a utilização da inovação para a resolução dos mesmos.

“Vejo duas coisas que temos que evitar: primeiro, temos de evitar a reação estúpida de dizer ‘vamos parar a inovação’  porque impede que tenhamos os benefícios positivos da inovação. Aqueles que dizem “é muito complicado, é melhor parar’ acho que não têm qualquer sentido. E segundo, temos de evitar a ingenuidade de pensar que as formas tradicionais de regulação para setores como a energia ou o sistema financeiro podem resolver o problema”.

Concorrência justa na tecnologia. Funciona ou não?

Margrethe Vestager, comissária europeia para a concorrência subiu ao palco acompanhada por Kara Swisher, editora executiva da Recode. A comissária realçou que as empresas não devem temer a concorrência, que esse é o caminho para a inovação e para o crescimento.

“Quem é que não quer o próximo Google? Quem é que não quer sucesso? Quando crescemos, não devemos negar aos outros a possibilidade de nos desafiar e não podemos dizer que ninguém nos pode desafiar. A concorrência é uma das melhores coisas da inovação porque é preciso ficar na corrida e pensar em algo novo, caso contrário deixe o mercado,” afirmou a comissária.

Quando questionada sobre os Paradise Papers, o mais recente escandâlo de paraíso fiscal envolvendo algumas das maiores empresas tecnológicas, Margrethe disse que “há que mudar”. A comissária acredita que a prevenção destes casos passa pela total transparência das empresas e a responsabilização daqueles que permitam que casos destes aconteçam.

“Graças aos cidadãos tem havido uma enorme pressão para haver uma mudança de legislação para haver total transparência. Também gostaríamos de ter relatórios feitos país a país sobre as atividades das empresas, empregados, lucros e impostos pagos para que possamos saber. Também queríamos que todos os intermediários nos impostos, aqueles que permitem que casos como este aconteçam, que sejam responsabilizados por permitirem que as empresas não paguem os impostos”, acrescentou.

À semelhança do ano passado, a Web Summit decorre entre 6 e 9 de novembro no Altice Arena e na Feira Internacional de Lisboa (FIL), em Lisboa.