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Paulo Doce de Moura colabora pontualmente com a PME Magazine (Foto: DR)

Afinal para que servem as agências de rating?

Por: Paulo Doce de Moura, manager de banca e investimentos

 

As agências de rating realizam avaliações sobre países, instituições e empresas e atribuem notas de risco sobre a capacidade de pagarem as suas dívidas. Ou seja, avaliam se um país ou empresa está em boas ou más condições para pagar o dinheiro pedido na data acordada.

As agências de rating podem cortar as tendências de estável para negativa, para dívida especulativa, vulgo ‘lixo financeiro’, ou introduzir um sinal negativo em relação às próximas avaliações, com a ameaça de uma crise de liquidez, ameaçando o financiamento dos países ou instituições.

Existem quatro grandes agências oficiais, a Standard&Poor´s, a Moody’ s Investor Services, a Fitch Ratings e a DBRS que indicam a notação de cada país. A situação da dívida pública e a dinâmica de crescimento no curto e médio prazo é um dos principais fatores que é tido em conta.

Investidores de todo o mundo usam estas agências de rating para avaliar o risco que têm ao emprestar dinheiro a determinados países ou empresas. Existem há vários anos e foram criadas para fornecer avaliações independentes sobre investimentos. Os próprios países pagam a estas agências para serem avaliados.

E quando o rating desce para ‘lixo financeiro’? Duas implicações muito graves: as obrigações do tesouro acima de dois anos deixam de ser elegíveis para o programa de compra do BCE (no caso da União Europeia) no mercado secundário e os bancos deixam de poder usar esses títulos como colateral nas suas operações de financiamento junto do banco central.

Os bancos passam a só poder recorrer à liquidez de emergência junto do Banco Central do seu país pagando um custo mais elevado. O disparo dos juros da dívida de longo prazo no mercado secundário é mais significativo.

Ou seja, os juros historicamente baixos atuais seriam impossíveis e o financiamento da dívida no mercado seria elevado. Um aumento de um ponto percentual ao longo de toda a curva de rendimentos da dívida obrigacionista traduz-se num aumento imediato e permanente dos juros a pagar nas contas públicas.

A elevada dívida pública, o crescimento económico anémico, problemas na banca, nomeadamente com alto nível de crédito malparado e abrandamento nas reformas estruturais pesam na perceção e confiança dos investidores e das agências de rating.

A classificação não é idêntica para estas três agências de rating. Para a Moody´s a melhor classificação que um país pode receber é Aaa e a pior C. Para a Standard&Poor´s e Fitch a melhor é AAA e a pior D. A escala, no mínimo, significa alta probabilidade de não pagamento das dívidas dentro do prazo acordado e, no topo, total capacidade de pagamento.

Mas nem tudo corre bem!

As agências de rating têm sido acusadas de falharem na avaliação credível e independente de certos investimentos. Falharam, por exemplo, na altura da crise financeira, que começou nos Estados Unidos, com avaliações elevadas no setor imobiliário. Mas também com a Islândia, que entrou em bancarrota quando tinha uma avaliação elevada. Em resultado disso, tanto nos EUA como na Europa, as agências de rating começam a ser questionadas, estando mesmo a ser reavaliada a sua regulação. Em resposta, as agências alegam que as notas que dão são apenas opiniões que os mercados podem ou não aceitar.

A verdade é que não existe, no momento, qualquer forma de substituição do trabalho que fazem e que é imprescindível para quem vai emprestar dinheiro.